O novo CEO do Grupo Algar assume a função a partir do ano que vem. O atual presidente, Luiz Alexandre Garcia, está há 12 anos à frente do grupo e vai para a presidência de honra do conselho de administração. Divino, com 40 anos de carreira pelo Grupo, é o atual vice-presidente de operações da Algar Holding e também foi presidente da Algar Telecom e Algar Tech.

Algar é uma junção de nome e sobrenome do fundador do grupo, Alexandrino Garcia. Grupo empresarial criado em 1930, com sede em Uberlândia (MG), atua em todo o território brasileiro, exceto na região Norte, e tem operações na Argentina, Colômbia e no México. Uberlândia significa terra fértil, da fartura. E é assim que a companhia que emprega 19 mil pessoas e atende dois milhões de clientes tem se espalhado pelo Brasil e até mesmo para fora, seja com as sementes do agronegócio ou com a fibra óptica que ilumina diferentes regiões. O grupo é formado por sete empresas: Algar Tech, Algar Telecom, Algar Agro, Algar Farming, Algar Segurança, Comtec e Grupo Rio Quente (que engloba o complexo Costa do Sauípe). Com sede em Uberlândia, a Algar Telecom opera telefonia fixa e móvel em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul e fornece serviços de voz, dados e TI em várias outras cidades das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O grupo mantém, ainda, o Instituto Algar, a universidade corporativa UniAlgar e o CSC Algar, centro de soluções corporativas. Neste momento, acelera três startups por meio da unidade de venture capital, a Algar Ventures: Alsol Energias Renováveis, NetSupport e Sensix. A operação de telefonia é uma das maiores responsáveis pela expansão da holding: de tele regional passou a nacional e é a quinta do País. O Grupo registrou receita líquida de R$ 4,5 bilhões no ano passado.

Por SÉRGIO DAMASCENO sdamasceno@grupomm.com.br

Meio & Mensagem — Recentemente, a Algar Telecom anunciou a ampliação da rede de fibra óptica e, até o fim do ano que vem, a previsão é de que 70% dos 87 municípios da área de concessão estarão cobertos. São mais de 2,2 mil quilômetros de fiber-to-the-home (FTTH). Em julho deste ano, começou a oferecer serviços empresariais também no Nordeste. Que outras iniciativas estão sendo feitas pela operadora?

Divino Souza — A Algar Telecom está num processo de expansão já há algum tempo. Desde quando resolvemos sair da área de conforto (a área de concessão original da Algar, cuja marca anterior era CTBC Telecom, abrangia 87 municípios no Triân­gulo Mineiro, noroeste do Estado de São Paulo, sul de Goiás e sudeste do Mato Grosso do Sul), em 2005, há 13 anos, adquirimos uma empresa de fibra óptica em São Paulo, a Iqara Telecom, que já tinha cerca de 300 quilômetros de fibra nas principais vias da cidade, o que nos interessava para o atendimento a empresas. A partir daquela época, não expandimos mais com cabo, e sim com fibra. Sempre com a estratégia de ir para os centros que tenham o maior PIB de telecomunicações. Por ordem, era expandir onde já estávamos, depois o Sul e a terceira etapa, o Nordeste. No Sul, estamos em operação há três anos. Compramos uma empresa em 2015 (a Optitel, com cobertura em 237 cidades nas regiões Sul e Sudeste) e agora estamos executando a terceira etapa que é a expansão para o Nordeste. Essa etapa estava na nossa estratégia desde o ano passado quando, conjuntamente com os parceiros Google, Angola Cable e Antel (Uruguai), construímos um cabo submarino ligando Santos, Fortaleza e Boca Raton (Estados Unidos), que é um hub de telecom para o mundo. Construímos esse cabo que tem mais de dez mil quilômetros de fibra. Quando chega a Fortaleza e abre em Santos, se conecta às nossas redes. Portanto, ligamos todos os nossos backbones (rede principal pela qual trafegam os dados) à rede que está conectada a Fortaleza e aos Estados Unidos. É uma capacidade muito boa. E ainda colocamos o pé no Nordeste. Estamos construindo redes por dentro, em anel, que já começam a se concretizar. E, como parte dessa estratégia, adquirimos parte da Cemig Telecom (em leilão realizado em agosto deste ano, a Algar ficou com o lote 2 da elétrica, cujos ativos abrangem Ceará, Bahia, Pernambuco e Goiás) que interliga a maioria das cidades que temos como alvos. Essa situação está bastante avançada e, praticamente, temos atuação em quase todas as cidades do Nordeste.

M&M — No início deste ano, a Algar Telecom teve 25% das suas ações adquiridas pelo fundo de investimento ­Archy, do GIC Special Investments, de Cingapura. O que significa essa operação do ponto de vista de estratégia para o braço de telecomunicações do Grupo?

Souza — Como essa estratégia é de crescimento, é bom ter parceiros dessa natureza. Até para que nos dê outra visão de que a empresa precisa crescer rápido, de ser um grupo mais forte, mais parrudo estrategicamente para que possamos crescer. O grupo vendeu um quarto da empresa, mas está propiciando uma capitalização boa para nosso crescimento.

M&M — O Instituto Great Place to Work, que elabora o estudo das Melhores Empresas Para Trabalhar em Tecnologia da Informação, divulgou o ranking recentemente e a Algar Telecom ficou em 10º lugar entre as grandes empresas. A que o senhor atribui isso?

Souza — Não temos um programa interno para ser a melhor empresa. Os prêmios e reconhecimentos vêm da própria estratégia da empresa. Não só de telecomunicações, mas principalmente do setor de TIC, que trabalha mais com tecnologia. Tanto a Algar Telecom quanto a Algar Tech, desde 2012, passam por uma transformação onde sentimos necessidade de acompanhar, com um passo à frente, a tendência do mercado, que era a digitalização, ser mais interativo com o cliente, ter atendimento omnichannel. Essa transformação está chegando bem rápido, inclusive, a área de call center, já a partir deste ano, terá várias ofertas de atendimento ao cliente digitalizadas, por meio de plataformas, robôs e integração de softwares. Esse reconhecimento vem da preocupação com os serviços. Os próprios clientes respondem por essa evolução.

“A preocupação é com que o governo não atrapalhe nossos negócios. Se não atrapalhar muito, os empresários têm condições de vencer. Se não tiver muito engessamento, decretos que troquem a regra do jogo em andamento, estamos esperançosos”

M&M — Vocês deixaram de ser, há muito tempo, uma operadora local. A Algar Telecom é tão nacional quanto as demais teles. O que mudou para a Algar quando a empresa passou a ter essa operação nacional, já que se viabilizou como as demais?

Souza – Exato. Desde 2005, quando começamos a expandir, estamos construindo esse crescimento. E trabalhando também a cultura que é importante porque éramos muito vistos e, às vezes, até agíamos como uma empresa regional. Quando botamos o pé em São Paulo, começamos a executar uma tarefa de, sempre que fôssemos para uma nova localidade, contrataríamos todo o corpo executivo, técnico e consultores de venda na região. Por exemplo, para vir ao Nordeste, vem um, dois ou três executivos para comandar a estação, mas todo o grupo é da região. Por conhecer e ter a cultura da região. Isso é muito importante. Culturalmente, já deixamos de ser aquela empresa regional. Estamos executando uma tarefa em que a parte do B2C, em que somos um full service provider — temos TV, banda larga, telefonia fixa e móvel — ainda está focada em algumas regiões. Quando expandimos, nossa estratégia é atender empresas grandes, médias e pequenas. Com foco muito grande em PMEs.

M&M — Desde que o grupo deixou de ter atuação regional e passou a nacional, o que mudou na comunicação e no marketing?

Souza — Contabilizamos presença em 348 cidades. A Algar Tech está presente na Argentina, Colômbia e no México. Houve uma evolução natural nos processos de comunicação e de marketing para que acompanhassem o crescimento das operações. Temos as áreas de marketing e comunicação atuando diretamente nas grandes capitais — o que facilita no entendimento do mercado local, no desenho do plano de marketing e na execução da estratégia. Temos 42 escritórios/filiais espalhados pelo Brasil e fora dele. Essa ampliação na abrangência, aliada ao estabelecimento da monomarca — projeto conduzido pela Thymus Branding e Fabra Quinteiro —, exigiu que fizéssemos o Grupo Algar, suas empresas e negócios serem conhecidos em cidades e estados que, até então, não se relacionavam com a Algar. Assim, potencializamos a presença da marca Algar e a força do grupo com ações de awareness branding, bem como veiculação em meios nacionais e patrocínio de inúmeros eventos. Em 2017, por exemplo, desenvolvemos, em parceria com a WMcCann, a campanha “Ema, Ema, Ema” (institucional do grupo). Neste ano, criamos o canal Inspire Fundo, uma estratégia de brand publishing em parceria com a Rede Snack. Demos continuidade ao patrocínio do Santos Futebol Clube e a Algar Telecom, pela chegada ao Nordeste, investiu no Ceará. Ampliamos o escopo das agências que nos atendem como SIC, R&B, 6P, Alta Comunicazione, Raccoon, Motor Propaganda e Gimmick e, ao mesmo tempo, criamos nosso próprio centro de operações de marketing, o .COM, que conta com uma equipe de 14 profissionais que elabora planejamento de comunicação, cria peças para mídia off-line e online, gerencia sites e mídias sociais e a performance digital em tempo real. Desde que foi criado, no ano passado, o .COM já fez mais de 25 mil peças para o grupo, além de imprimir velocidade e assertividade nas entregas de comunicação. Na prática, a expansão do grupo além de sua tradicional área de concessão nos fez implementar novas estratégias no modelo de gestão do marketing e comunicação. Atualmente, a área de marca Algar dá muito mais flexibilidade às empresas Algar para criar e inovar sua comunicação, num contexto de mercado mais dinâmico e volátil.

M&M — Atualmente, são três as empresas investidas pela Algar Ventures, braço de corporate venture capital do grupo: Alsol Energias Renováveis, Net-Support e Sensix. Como se dá a troca entre as startups e as empresas estabelecidas do grupo?

Souza — As empresas investidas têm o apoio do grupo no desenvolvimento da sua governança e profissionalização, mas, especialmente, no acesso ao mercado. Facilitamos a interação delas com todas as nossas empresas, pois isso pode ajudá-­las a encurtar caminhos tanto no desenvolvimento de seus produtos e soluções quanto no desenvolvimento de contatos e oportunidades de negócio. Além disso, são convidadas para participarem dos fóruns internos de discussão sobre tendências, inovação e temas que podem colaborar com a jornada de crescimento do empreendedor.

M&M — A Algar Telecom criou o Brain, Instituto de Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócio em quatro temáticas principais: internet das coisas (IoT), cyber security, cloud (SaaS) e digital. O Brain utiliza a metodologia Scrum, usada para implementar o desenvolvimento Ágil, que são princípios relacionados à colaboração, auto-organização e equipes interdisciplinares. Isso abrange o processo de transformação digital do grupo?

Souza — Tínhamos, há dois anos, uma área de inovação em cada empresa, cada uma focada em desenvolvimento de produtos. O Brain é entidade externa às telecomunicações, que tem contato com outros pesquisadores externos e cientistas, mas muito focado em digital. Não estamos lá para reinventar a roda, mas pegar o que já existe em digital e transformar isso em produtos viáveis. A metodologia de trabalho capta pessoas de tecnologia, traz para o centro reservado, coloca à disposição todas as ferramentas, os técnicos e a técnica que estão ali, desenvolve os produtos e depois eles voltam para dentro das empresas e são responsáveis por esses produtos que foram desenvolvidos lá. Não é simplesmente um centro de criação onde se desenvolve o produto e, se der certo, tudo bem, se não, acabou. Por exemplo, se surgiu uma ideia dentro de telecom, o grupo vem para cá, dentro do Brain, e vamos fazer o esforço para construir esse produto. É um exemplo de como o Brain está contribuindo para a solução de vários produtos de inovação. E a estratégia do Brain é intermediar vários centros específicos do mundo inteiro para que possa ser um white label onde os outros centros possam interagir conosco, não só para o mercado brasileiro, mas também para produtos que tenham tendência mundial.

M&M — E quais são os reflexos do Brain para o grupo, ou seja, o que pode ser tirado de lá para transformação digital do próprio Grupo Algar?

Souza — Tem reflexo, sim, mas cada empresa tem sua estratégia de transformação digital. Vou dar o exemplo da Algar Tech, que está transformando suas plataformas de atendimento ao cliente. Isso é muito específico só para a Algar Tech, que tem seu grupo de desenvolvedores. Usualmente, vão para dentro do Brain, mas são programas mais rápidos, de suporte. A transformação da Tech na indústria de plataformas — uma de monitoramento dos sistemas de TI, outra de monitoramento de sistemas de atendimento ao cliente — foi feita com parcerias, outras startups que, simultaneamente, vêm, montam a plataforma e depois vão embora. Cada cliente que temos ou conquistamos precisam de soluções específicas. Portanto, não tem como se voltar para o Brain e fazer um produto específico para a Algar Tech. Cada vez que há uma necessidade diferente para o cliente, é montado um novo tipo de serviço, um novo grupo para poder desenvolver isso.

M&M — No caso da Algar ­Tech, existe algum projeto de inteligência artificial?

Souza — Praticamente todas as nossas empresas de tecnologia estão nesse direcionamento. A inteligência artificial (IA), agora, faz parte do dia a dia. Inclusive os devices que têm vindo já estão embarcados com essa tecnologia. Nossa plataforma (de telecomunicações) já tem um componente que é amigável a esse sistema. Smartphones embarcados com IA, novos switches (comutadores de redes), servidores. A área de cobrança, por exemplo, quanto mais usa a plataforma baseada em IA, mais inteligente fica. Já está na rotina da empresa, na parte de cobrança, em que mais de 70% dos processos são feitos sem o contato de pessoas.

M&M — A Algar Agro fechou um acordo com a norte-americana Archer Daniels Midland (ADM) para a venda de ativos em Minas Gerais e Maranhão, que abrangem, respectivamente, as plantas integradas de esmagamento de soja e de refino e envase de óleo de soja. Por que o grupo se desfez dessa operação?

Souza — Saímos do esmagamento de grãos. Numa análise do porftólio do Grupo Algar, estamos vendo os negócios sobre os quais temos chances de crescer mais rápido. Como as unidades de esmagamento de soja eram só duas e havia muita competição com empresas multinacionais, preferimos concentrar na produção de grãos e criação de gado. Mas não estamos desvinculando tecnologia disso. Nos 20 mil hectares que temos plantados, já começamos a fazer a irrigação em que, a cada cluster, tem tecnologia. Dentro da produção de grãos, vimos investindo numa startup, que já é uma acelerada, que faz análise do solo, tem estudo do clima, identifica onde precisa de mais adubo. A área de criação de gado, por exemplo, não é simplesmente ir lá e colocar os bois no pasto. Nas áreas de confinamento, também propiciamos toda a tecnologia. Somos nós que fornecemos a infraestrutura de tecnologia e de alimentos.

“Houve uma evolução natural nos processos de comunicação e de marketing para que acompanhassem o crescimento das operações. Temos as áreas de marketing e comunicação atuando diretamente nas grandes capitais — o que facilita no entendimento do mercado local, no desenho do plano de marketing e na execução da estratégia. Assim, potencializamos a presença da marca Algar e a força do grupo com ações de awareness branding, bem como veiculação em meios nacionais e patrocínio de inúmeros eventos”

M&M — No Mobile World Congress (MWC) do ano passado, em Barcelona, havia muita aplicação de IoT para agropecuária. Nesse sentido, vocês têm know-how para usar essa tecnologia na área rural?

Souza — Sim. Estamos aplicando, primeiro, nos nossos negócios. Mas, para ter escala, todas essas investidas, as startups que estão conosco, a intenção é que isso, brevemente, torne o negócio comercializável para outras indústrias. Não pretendemos ter essa tecnologia para guardar para nós mesmos.

M&M — No ano passado, o Grupo Rio Quente, que opera com hospedagem compartilhada (vacation owner, em que o turista se torna proprietário de uma parte do empreendimento), adquiriu o complexo Costa do Sauípe e se consolidou nesse segmento e também em resorts. Quais são os planos do Rio Quente?

Souza — O Rio Quente é um investimento bastante estratégico e (com a aquisição do Sauípe) aumentamos o destino e passamos para dois.  Para isso, foi lançada a Aviva Algar FLC, que une os complexos de parques e resorts Rio Quente (Goiás) e Costa do Sauípe (Bahia). É uma junção muito boa de um destino de águas termais no interior do País com destino praia e outras oportunidades que poderão surgir dentro de Sauípe. Temos muita energia para desenvolver Sauípe, que não foi comprado para ficar do jeito que é. Temos um grande plano de investimento, com criação de parque aquático e outros movimentos que podemos fazer no complexo. A hospedagem compartilhada ainda é uma torre de suporte muito grande, mas com a modernização e disponibilidade de mais opções de lazer, talvez, no futuro, tenhamos de rever parte dessa estrutura. Mas hoje tem um grande apelo e é um bom negócio o cliente comprar a hospedagem durante o ano.

M&M —  Com o novo presidente eleito e um cenário ainda desconhecido pela frente, quais são as expectativas do grupo em relação a esse governo e à macroeconomia?

Souza — O Algar é um grupo de 88 anos. Já passamos por muitas mudanças de governo. Tivemos muitos impactos como o Plano Collor, tablitas, ou seja, passamos por muitas dificuldades na economia e no governo. Sempre enxergamos com esperança. E empresários de empresas privadas esperam bastante reconhecimento do governo que entra. Mas, em geral, a preocupação é com que o governo não atrapalhe nossos negócios. Se não atrapalhar muito, os empresários têm condições de vencer. Na área de telecom, por exemplo, somos a quinta empresa do País. Para ser a primeira, temos muito a crescer. Na área de produção de grãos, a Algar Farming pode crescer bastante. Na área de tecnologia, temos um market ­share pequeno. Se não tiver muito engessamento, decretos que troquem a regra do jogo em andamento, estamos esperançosos. A economia deve melhorar, deve haver mais oportunidades para investimentos. No mercado de capitais, pouco se usa porque os juros complicam. Quando você pega esse dinheiro e transforma em produtos, as margens, praticamente, empatam. Bancos, hoje, ganham mais do que empresários. Se essa fórmula for mexida, temos esperança.

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